Por Onde Ando: O meu Tejo se chama Piancó!

Sonia Maria Lacerda

O artigo abaixo, escrito pela juíza Sonia Maria Lacerda, foi publicado no Jornal da AMATRA 13. Aproveite e confira a publicação completa aqui!

Para os interioranos desse imenso mundo chamado Brasil, “conhece-se um rio pela força de sua nascente”. Nesse sentido, devo muito de minha energia às minhas origens, Piancó, minha querida e inesquecível cidade natal. Em minha trajetória de vida, os trechos mais caudalosos – e, portanto, com maiores obstáculos – apenas foram superados graças ao impulso constantemente recebido de minha infância em Piancó.

Desconhecida para muitos, não é um grande centro, Piancó é palco de inúmeros acontecimentos que ajudaram a amalgamar a existência do Brasil. Do interior da Paraíba, surgiu a Coluna Prestes, movimento que trouxe imenso aprendizado sobre bravura, ousadia e estratégia. Um sonho de homens, que unidos, jamais foram vencidos.

Piancó, para mim, é bem mais que um mero ponto histórico ou geográfico. Afinal, é em nossa cidade de origem que captamos as primeiras informações, sensações e experiências que nos marcarão em toda nossa trajetória. E as marcas deixadas por Piancó não poderiam ser melhores. Certamente, muito de minha alegria vem das reminiscências de Piancó e suas ruas tranqüilas. De seu povo trabalhador. Do calor humano das pessoas.

Como muitos nordestinos, deixei minha terra para encontrar na grande Capital paulista meu sonho. Se minha história não é tão triste e sofrida como a de muitos de meus conterrâneos, devo frisar que essas experiências de provação e de dificuldades captadas por minhas retinas e arquivadas em meu peito jamais foram esquecidas. Desde que me conheço por ser humano, de uma forma ou de outra, lutei para diminuir as mazelas e as desigualdades. Ainda antes da Magistratura, em outras tantas funções desempenhadas, meu olhar e minhas ações eram voltados à distribuição da Justiça.

No entanto, foi na Magistratura e na maternidade que me descobri mulher, de Piancó e da Paraíba. Desde meus primeiros passos, o destino me Juíza do Trabalho da 2º Região Presidente da AMATRA 2 reservava dois dos maiores orgulhos que uma mulher pode ostentar: o dom de dar a vida e o de distribuir Justiça.

Mudei-me de Piancó e da Paraíba, mas nunca abandonei aqueles valores que me foram legados. Da Paraíba, estado de gente castigada pelo trabalho e que inexplicavelmente permanece com profunda alegria, reputo existir meu profundo senso de lealdade e a sede insaciável de ajudar as pessoas.

Hoje, estou em São Paulo. Consegui muito mais do que poderia imaginar, acima do que meus sonhos projetavam.

Além de Magistrada dos quadros de um dos mais importantes Tribunais do país, tenho a honra de representar os Magistrados da 2ª Região, na qualidade de Presidente da AMATRA-SP. E apenas aquela tenacidade da Coluna Prestes é capaz de explicar como uma mulher nordestina conseguiu realizar seu sonho, a despeito de vários obstáculos e preconceitos. E a oportunidade de resgatar, nessas linhas e para meus conterrâneos, os meus momentos mais sublimes da infância traz um reconforto especial.

Um carinho singular, na verdade único, que apenas os brasileiros, de Piancó ou de São Paulo, são capazes de sentir: saudade!
Para encerrar, peço licença para citar algumas das mais belas estrofes da língua portuguesa, proferidas pelo inesquecível Fernando Pessoa:

“O Tejo é mais belo que o rio
que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que
o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que
corre pela minha aldeia”.

Para mim, Sonia Maria Lacerda, paraibana de Piancó, o Tejo não é mais belo que o rio Piancó!


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